Tuesday, July 24, 2007

Seja água, meu amigo

Quase todo mundo tem aquela fase radical com música.

Digo quase porque tem gente que não gosta de música, mas, se você gosta, já teve sua fase. O cara é metaleiro, e, se toca algo mais leve que Cradle of Filth, já parte para a agressão. Ou então o cidadão está em sua fase eletrônica, raver, clubber e, quando fareja o menor resquício humano – seja um fio de cabelo do operário durante a prensagem do cd seja um germe do espirro do designer durante a criação do encarte – lá vem aquela cara de diarréia.Eu também já tive minha fase.
Lembro bem de ter ido à Bahia com uns 16 anos. Sol, praia e muito axé, num palco montado na praia na frente do hotel. Duas loiras rebolavam, um negão remexia e outros cinco faziam o som, diariamente, nine to five. Eu, plantado embaixo do sol, tive como melhor amigo nessa viagem meu discman, que rodava sem parar o S&M, que o Metallica havia lançado fazia uns meses.
Uns dois anos depois, voltei à Bahia para o glorioso rito de passagem do jovem paulistano rumo ao mundo dos homens: a semana do colégio em Porto Seguro. Nesta época, ainda ouvia muito rock pesado, mas não só compareci a todos os eventos musicais da semana (desconsidere o fato de que música não era, não é, nem nunca será, o principal atrativo numa viagem deste tipo) como me lembro de ter me divertido muito nos shows da Ivete Sangalo, Harmonia do Samba e outros do gênero. O que aconteceu naquela semana foi algo muito simples: eu me tornei água.
Nascido num hospital chinês em São Franscico, Califórnia, Bruce Lee talvez tenha sido o maior lutador da história. Seus golpes e gritos conquistaram Oriente e Ocidente em iguais proporções. No auge de sua carreira, o velho rival de Chuck norris concedeu uma entrevista (que depois virou até propaganda da BMW), na qual deu dicas pseudo-filosóficas a seus seguidores:

Empty your mind, be formless. Shapeless, like water. If you put water into a bottle, it becomes the bottle. You put it in a teapot it becomes the teapot. Now, water can flow or it can crash. Be water my friend.

Mesmo não sendo fã das trilhas sonoras de seus filmes, muito menos de música popular chinesa (até mesmo pelo fato de não saber identificar uma), reconheço neste particular ensinamento do mestre uma valiosa dica aos extremistas musicais. Já tendo feito parte do Taliban sonoro, faço um balanço não tão positivo de minha militância no grupo do “tira essa merda!”.Claro que ainda luto contra alguns fenômenos musicais que só a rica miscigenação cultural brasileira é capaz de formar, mas percebo que a minha luta agora é mais “agora não é o clima” do que “prefiro ter uma agulha atravessada no meu tímpano durante toda a eternidade”.
Não que você deva vibrar com tudo o que o mercado vomita em cima de você, mas, para manter sua própria sanidade, tente educar o ouvido a pelo menos aceitar outros sons. Se você é roqueiro, comece com o Blues, virá então o folk e, quando você perceber, estará num churrasco ouvindo Leandro & Leonardo sem tentar o suicídio com o espeto de linguiça. Se a sua é o reggae, experimente o dub. Quando você perceber, já estará dançandinho um eletrônico na balada. Fazendo isso, você fará a música trabalhar para seus nervos, e nunca contra eles.

Lembre-se, a música é sua amiga, inventaram-na para te divertir. Seja água, meu amigo. Ou morra com um discman na orelha.

1 comment:

Fecespedes said...

Suspeito que se eu conseguisse pular linha no texto como eu gostaria, esse blog seria um sucesso. Suspeito tb q todos aqui têm algum problema mortal com ele, por isso ele faliu.

Pronto, desabafei...essa é a minha frustração, não consigo pular linha!

Me sinto mais leve agora...

E ae? Quem tá voltando logo mais?

abs saudosos de um brasileiro,
lulo