Thursday, November 30, 2006

Corte marroquino

Estava outro dia em Lavapiés. Um dos tantos bairros de Madrid que conseguem agregar com certa harmonia, chineses, subsaarianos, bolivianos, árabes, equatorianos, indianos, e brasileiros.

Estava ali trabalhando. Um trabalho digno: colar panfletos em bares, locutórios, lotéricas e qualquer outro estabelecimento comercial que aceitasse propaganda de aulas de português. Paga pouco, uns 4 euros/hora, mas pelo conheço Lavapiés e descolo uns trocados.

Depois de quatro horas andando pra lá e pra cá resolvi me dar ao luxo de cortar o cabelo. 7 euros o corte. Caro pra caralho, mas ainda assim foi o mais barato que eu vi até agora em Madrid. O salao era só era uma salinha pequena, limpinha até, com duas cadeirinhas de barbeiro, todo espelhado e com uma bandeira do Marrocos bem no alto da parede mal pintada.

Enquanto esperava pela minha vez na fila, entrava e saía gente, falando alto, cumprimentando, dando risada. Uma festa na peluqueria. "Todos clientes", me falou um dos cabeleireiros. Enquanto ele cortava meu cabelo a conversa ia rolando conforme o roteiro brasileiros no exterior: sou do Brasil, quero conhecer Marrocos, gosta de futebol?... e por aí vai.

Em determinado momento o sujeito pára tudo, poe as tesouras no balcao e sai sem falar nada pra salinha do lado, um pouco menor que onde eu estava. 2 minutos e nada dele voltar. 5 minutos e nada. O salao cheio e todo mundo agindo normalmente. 10 minutos e eu lá sentado... Nao aguentei e dei uma espiada na sala. Lá estava meu cabeleireiro marroquino, ajoelhado no seu tapetinho, virado pra Meca, fazendo sua oraçao diária para Alá.

Eu que nao sabia nem onde ficava minha casa e já tinha esquecido metade do pai-nosso fiquei na minha, esperando. Logo o peluquero voltou, e voltou a conversa. Na maior naturalidade. 7 euros, mas uma boa história pra contar. O cabelo ficou igual a todas as vezes que eu cortei em barbeiros. Uma merda. Mas em dois dias eu acostumo e isso nao vai mais me dar trabalho por alguns meses. Isso é o que importa. Fica a liçao: da próxima vez deixa de frescura e passa logo a máquina.